A POLÊMICA ENTRE SÓCRATES E OS SOFISTAS

A POLÊMICA ENTRE SÓCRATES E OS SOFISTAS

 

Na história do pensamento grego, o segundo período é chamado de período sistemático. Neste período se realiza uma sistematização lógica do pensamento grego, que viria refletir mais tarde em toda história do pensamento humano.

 

Este caminho se faz através dos Sofistas e de Sócrates, culminando em Aristóteles por meio de Platão, que fixa o conceito de ciência e de inteligível, contribuindo muito para isso, também a crise cética (teoria que afirma que todo conhecimento é relativo), da sofistica.

 

Aqui, neste período, ao contrário do período anteriormente estudado (physis) – todo o interesse dos filósofos se volta, preferencialmente, não em torno da natureza, más coloca o homem e o espírito humano no centro de suas discussões. Da metafísica passa –se à gnosiologia – ou seja – como o homem conhece algo; será possível um conhecimento absoluto, verdadeiro, sobre o mundo, as ciências e as coisas?... Estás são as questões centrais da discussão filosófica. Por esse motivo e visto serem estas questões o ponto alto que vai ocupar a reflexão dos filósofos deste período, é que ele fica conhecido, também, como período antropológico. E é assim, pela importância que se dá ao homem e ao espírito no sistema do mundo - ao contrário do que fôra no pensamento anterior, limitado à natureza exterior – que surge o nome de antropológico, do qual se utilizam alguns historiadores da filosofia. Este período é considerado como a época áurea do pensamento grego e atinge todo o século IV a.C.

 

Como já foi visto, então, o período pré-socrático foi dominado, em grande parte, pela investigação da natureza. Essa investigação tinha um sentido cosmológico. Era a busca de explicações racionais para o universo manifestada na procura de um princípio primordial (arché) para todas as coisas existentes. A esse período, seguiu-se uma nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no próprio homem e nas relações do homem com a sociedade. Essa nova fase foi marcada, no início, pelos sofistas.
Etimologicamente, o termo sofista significa sábio. Más com o passar do tempo, acabou por ganhar, pejorativamente, o sentido de impostor, devido ao fato de cobrarem por seus ensinamentos, e às criticas de Platão.

 

Os sofistas eram professores viajantes que, por um preço determinado, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Levando em consideração os interesses de seus alunos, davam aulas de eloqüência e sagacidade, agilidade mental. Todos os seus ensinamentos eram voltados a conhecimentos úteis para o sucesso dos negócios públicos e privados.

 

O momento histórico vivido pela civilização grega favoreceu o desenvolvimento desse tipo de atividade praticada pelos sofistas. Era uma época de lutas políticas e intenso conflito de opiniões nas assembléias democráticas. Por isso, os cidadãos de Atenas mais ambiciosos sentiam a necessidade de aprender a arte de argumentar em publico para que, manipulando as assembléias, fazerem prevalecer seus interesses individuais e de classe.

 

As lições sofisticas tinham como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes.

Eles transmitiam todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários.

Segundo essas concepções, não haveria uma verdade única, absoluta. Tudo seria relativo ao homem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstâncias. Os principais sofistas foram quatro: Protágoras, Górgias, Hípias e Pródicos.

Esse ceticismo dos sofistas podemos perceber nas afirmações de Protágoras, por exemplo, que afirmava ser “o homem a medida de todas as coisas, das coisas que são e das coisa que não são”; ou seja, as coisas são como lhe aparecem, más não como aparecem á todos os homens, ou melhor dizendo, ao homem em geral, e sim ao individuo em particular. E dizia mais: “É verdadeiro e é bem, aquilo que aparece tal a cada qual em cada momento”.

Górgias, o segundo mais importante nome da sofística, falando sobre a existência das coisas, afirma que “nada existe; e se algo existisse, seria incognoscível (impossível de ser conhecido); e mesmo que se pudesse se conhecer, seria incomunicável” – impossível de ser comunicado aos outros. No Górgias de Platão, Górgias declara que a sua arte produz a persuasão que nos move a crer sem saber, e não a persuasão que nos instrui sobre as razões intrínsecas do objeto em questão.

Como vimos á cima, na fala de Protágoras, para remediar este extremo individualismo, negador dos valores éticos e morais, ele recorre à convenção estatal, social, que deveria estabelecer o que é verdadeiro e o que é bem!
Por estas afirmações dos dois mais importantes sofistas podemos perceber, então, que a teoria sofistica do conhecimento é absolutamente relativista, subjetiva e cética.

 

A MORAL, O DIREITO E A RELIGIÃO.

Mantendo ainda, uma coerência com o ceticismo teórico, os sofistas sustentam o relativismo prático, destruidor da moral. Como ensinam que é verdadeiro o que parece aos sentidos, da mesma forma é o bem tudo aquilo que satisfaz ao sentimento, ao impulso, á paixão de cada individuo em cada momento particular. Ao sensualismo e ao empirismo gnosiológico correspondem o hedonismo(desfrutar dos prazeres imediatos) e o utilitarismo ético, ou seja, o único bem é o prazer; a única regra de conduta é o interesse partícula, pessoal, pertinente a cada um. Górgias demonstra uma grande indiferença para com todo moralismo. Em suas aulas de retórica, ensina ele aos seus discípulos somente a arte de vencer seus adversários; se a causa é justa ou não, não lhe interessa. A moral, - como norma universal de conduta – é concebida pelos sofistas não como lei racional do agir humano, ou seja, como a lei que fortalece a natureza humana, e sim como um empecilho que incomoda o homem.

Em relação ao direito e a religião, a sofistica é extremista também, da mesma forma como foi em relação a moral e a gnosiologia. Os sofistas movem uma justa crítica, contra o direito positivo, muitas vezes arbitrário, contingente, tirânico, em favor do direito natural. No entanto, este direito natural – assim como a moral natural – na opinião dos sofistas, não é o direito fundado sobre a natureza racional do homem, e sim sobre a sua natureza animal, instintiva, passional. Neste caso, o direito natural seria o direito do mais poderoso, porque em uma sociedade em que estão em jogo apenas forças brutas, a força e a violência podem ser o único elemento organizador, o único sistema jurídico admissível.

No campo religioso e divino, os sofistas não só trilham o caminho dos filósofos racionalistas gregos dos períodos que os precederam, bem como os posteriores, mas – em harmonia com o ceticismo deles próprios – chegam ao extremo, até o ateísmo prático. Os pensadores sofistas servem-se das injustiças do mal existente no mundo, para negar que este mundo seja governado por qualquer providência divina.

 

A POLÊMICA ENTRE SÓCRATES E OS SOFISTAS.

A polêmica surgida entre Sócrates e os sofistas foi, em certo sentido, marcante para o saber filosófico. Tal controvérsia ajudou a apurar o significado e o horizonte do saber que se destina a buscar as razões ultimas da existência, da realidade. A diferença, que os contrapõe, incute dois modos de conceber a finalidade do saber.

Os sofistas desenvolviam uma sabedoria utilitária, preocupada com a vida prática. A critica platônica e aristotélica a eles dirigida denunciava que o saber sofistico era aparente. A busca da verdade não se fazia de modo desinteressado, mas visava à obtenção de lucros.

Em contraposição, Sócrates não pretendia possuir sabedoria, mas mantinha à procura, demonstrando que a verdadeira sabedoria se lança para além da técnica do discurso, ensinada pelos sofistas. O homem não poderá jamais possuir a sabedoria, nem dominá-la plenamente. Ele está na posição de quem não sabe tudo. Há sempre alguma coisa a ser aprendida. A verdade tem necessidade de ser parturida. Ela precisa vir à luz, ser desvelada.

É na procura que o homem se revela a si mesmo como homem, sendo essencialmente um animal metafísico.